segunda-feira, junho 18, 2012

I&D para a COMPETITIVIDADE NACIONAL - parte I

A I&D não se limita à que visa resultados disruptivos, com criação de “start-ups” de tipo ChipIdea, NovaBase ou Multiwave. Pelo contrário, a maior parte da I&D que interessa à competitividade nacional, e em particular à compe­titividade econó­mica das empresas de bens transaccionáveis, é incre­mental, vi­sando inovar com re­curso a novas tecnologias e conhecimentos mas para adicio­nar valor comercial a proces­sos e linhas de produtos já em exploração empresari­al, quer já comercializados (nuclea­res), quer novos apenas para a empresa (complementares). Fre­quen­te­mente, tais tec­nolo­gias e processos já são do conhe­cimento de empresas estran­geiras e, por vezes, há muito, mas não são dominadas pelas empresas portuguesas. Ad­quirir e transformar em valor económico esses co­nhecimentos já exis­tentes no estran­geiro e, depois, levá-los mais longe com meios próprios, tem sido o se­gredo do desen­volvimento asiático, do Ja­pão à China passando pela Coreia, e foi também o se­gredo de alguns ca­sos de notável sucesso da in­dústria portu­guesa, como os transformadores da EFA­CEC[i].

A I&D incremental, porém, padece de um grave problema: não interessa ao mundo onde jaz a maioria dos recursos nacionais de I&D: a Universidade[ii].

1.1   I&D TECNOLÓGICA INCREMENTAL:

a)   Associar a I&D à atracção de capital estrangeiro


Na situação actual de profundo endividamento nacional, não há esperança para o relan­çamento da economia e do emprego em Portugal sem grandes volumes de investimento estrangeiro directo em novas actividades produtivas. Para além de outras condições de atracção desse investimento bem conhecidas (incluindo a estabiliza­ção da relação de Portugal com o euro), a oferta de serviços de I&D como mais-valia portuguesa deverá ser promovida para cada caso de investimento, envol­vendo partners do meio académico e/ou tecnoló­gico nacional[iii].
Essa oferta de serviços de I&D ao investimento directo estrangeiro tem duas fa­ces:
  • A valorização das condições nacionais de atracção e fixação do investimento di­recto estran­geiro, canali­zando dese­javelmente parte dele para o co-financi­amento ainda que limitado das próprias actividades de I&D;
  • O suporte duma estratégia de absorção nacional das tecnologias de que o inves­ti­mento estrangeiro seja portador.
Note-se que uma I&D dedicada ao apoio de investimentos directos fornece dois serviços: o próprio conhecimento inovador (em documentos, sejam eles relatórios ou patentes), e os recursos humanos formados na sua produção. Se o conheci­mento contido em docu­mentos pode constituir propriedade intelectual alheia, os recursos humanos não podem[iv].
Naturalmente, o investimento estrangeiro pode induzir crescimento não só pela difusão de tecnologia, como pela das práticas de gestão.

b)   Promover I&D de apoio às empresas nacionais de bens tran­saccioná­veis


Portugal não possui grandes empresas produtoras de bens transaccionáveis, quando me­didas à escala internacional. Porém, embora o número de grandes empresas[v] constitua apenas 0,3% do total nacional, elas empregam 27,5% dos trabalhadores portugueses e realizam 42% do volume de negócios. As grandes empresas, sendo quase sempre finan­ceiramente mais sólidas, são também menos vulneráveis às crises e pagam melhores empregos e, embora globalmente na Europa se verifi­que que o seu ritmo de criação de emprego é cerca de metade do das PME, têm um papel estruturador de clusters, po­dendo manter muitas PME que as orbitam comprando-lhes serviços e componentes.
As maiores empresas nacionais, porém, não se situam no domínio dos bens tran­saccio­náveis e gozam de situações de relativa protecção que as não têm incenti­vado à inova­ção, em anos recentes. Empresas como a EDP, REN, PT, que no pas­sado procuravam soluções inovadoras para melhorarem a qualidade dos serviços prestados e por isso pro­moviam o desenvolvimento de I&D nacional, em Univer­sidades e em empresas satélites fornecedoras de equipamentos exportá­veis, têm vindo a abandonar as preocu­pações de melhoria dos seus serviços em prol da defesa de privilégios financeiros em que as acções de I&D são frequente­mente operações de publicidade mediática, mas que não induzem au­mentos sustentáveis da capacidade exportadora das empresas saté­lites[vi].

Propomos a categorização das empresas nacionais em três tipos, relativamente à sua ca­pacidade de I&D tecnológica de bens transaccionáveis:

Ø Empresas nacionais produtoras de bens transaccionáveis com dimensão finan­ceira para o desenvolvimento de estratégias de I&D próprias, capazes de as definir e aplicar;
Ø Empresas nacionais produtoras de bens transaccionáveis sem dimensão finan­ceira para o desenvolvimento de estratégias de I&D próprias, mas ca­pazes de as definir, pelo menos se auxiliadas;
Ø Grandes empresas produtoras de bens não transaccionáveis mas clientes de equipa­mentos que o são, capazes de por isso alimentarem empresas saté­lites com capacidade exportadora (clusters);
Para as primeiras (exemplo: EFACEC) dever-se-á disponibilizar os apoios que elas pró­prias solicitem para I&D endógena no quadro das possibilidades disponíveis, como se fez com a medida 3 do PEDIP nos anos 90, e créditos fiscais. Tais empresas devem ser prio­ritárias, porquanto as métricas de avaliação mais modernas do impacto económico da I&D mostram que a reprodutibilidade do respectivo investimento é proporcional ao “fô­lego” das empresas que a praticam, nomeadamente ao número de mercados em que elas operam fora do seu mercado doméstico e ao número de diferentes produtos que comercializam[vii]. De resto, o investimento próprio feito em I&D por PME não supera 20% do investimento empresarial total em I&D na União Europeia, como o gráfico seguinte ilustra.

Percentagem da despesa empresarial total em I&D, em função da dimensão em pessoal das empresas, na União Europeia. Na UE, as PME (<250 empregados) são responsáveis por 20%, do investimento em I&D, e as pequenas (<50) por apenas 7.6%.

Alguns sectores que têm dimensão para o efeito e que são estratégicos para a competiti­vidade nacional mas praticam pouca I&D, como os hospitalares e outros associáveis ao turismo sénior, requerem o estudo de medidas específicas promotoras de uma I&D que enriqueça a cadeia de valor nacional em tais activi­dades, tanto pela inova­ção tecnológica como pela formação associada de recursos humanos[viii]; a própria definição da cadeia de va­lor associável a tal actividade, feita com os respectivos players económi­cos, será uma base de partida.
Para as segundas será necessário articular a sua associação em organismos re­presentati­vos (associações de empresas) com a associação de re­cursos de I&D em organismos aglutinadores (centros e/ou institutos de I&D) por ramos de acti­vidade e, por conse­guinte, fileiras comerciais.

Em qualquer dos casos, muita da inovação desejável pelas empresas produtoras de bens transaccionáveis é incremental, isto é, não requer invenções disruptivas nem sequer tec­nologias que não estejam já dominadas “lá fora”, mas requer um know-how inexistente no país. Por isso, uma vertente que tal I&D deve explorar sem complexos é a “reverse engineering” que, não permitindo a produção de “papers” em revistas internacionais, exige, porém, uma sólida for­mação científico-tecnológica combinada com um agressivo espírito empresarial. Com efeito, a cópia criativa não visa a ré­plica cega, mas sim a pou­pança do esforço de I&D que os outros já fizeram para chegarem aos resultados que o seu sucesso comercial va­lida, re­querendo que so­bre eles se realizem as modificações cri­ativas que por um lado a propriedade in­telectual impõe, e que por outro lado as novas tecnologias, dis­ponibili­zadas pelo tempo decorrido desde o desenvolvimento do bem ou produto copi­ado, permi­tem.
A reverse engineering é a primeira chave da estratégia tecnológica de um país atrasado que pretenda chegar a uma posição competitiva internacional em bens transaccionáveis, como todo o sucesso asiático demonstra. E, para aqueles que se sintam humilhados com tal afirmação, é de recordar que este país não sabe construir automóveis, nem medica­mentos, nem já mesmo navios competitivos, tudo coisas que algures se sabe fazer há muito![ix]

Desejavelmente, e porque deve estar intimamente associada às estratégias de negócios das empresas, a I&D incremental seria desenvolvida por recursos das próprias empresas, endogenamente. De facto, a I&D incremental não se pode li­mitar a criar inovações: estas têm que ser concebidas para a fabricabilidade e para a comerciabilidade no quadro em que a empresa se move, isto é, conside­rando os custos de produção e os valores de venda alcançáveis, e isso só dentro das empresas se pode conhecer. Por outro lado, a I&D incremental tem dois níveis: nuclear (“core”), que visa melhorar produtos e/ou ser­viços já produzidos pela empresa, e que internacionalmente consome de 40 a 80% dos recur­sos de I&D nas empresas que a praticam (os 80% verificam-se nas em­presas de produtos de grande con­sumo), e a complementar, que visa criar novas versões de pro­dutos ou serviços existentes e/ou para no­vos mercados da empresa (as quais podem não ser inovadoras em termos absolu­tos mas o são para a empresa), e que tipicamente consomem 20 a 45% dos recursos de I&D (os 45% verificam-se nas em­presas tecnoló­gicas estabelecidas). Em Portugal, a I&D incremental complementar re­quer frequente­mente o apoio de recursos exógenos às empresas, tanto em tec­nologia como em capaci­dade fi­nanceira, sendo a I&D incremental em que é mais imperi­osa a definição de políti­cas de apoio.
A História da economia portuguesa dos últimos 30 anos está infelizmente recheada de exemplos de empresas nacionais de bens transaccionáveis que desapareceram por inca­pacidade de promoverem a modernização e diversificação tecnológicas incrementais do que faziam, mesmo quando houve ajudas financeiras europeias para o efeito. É tempo de voltar a definir o apoio à I&D incremental de que as nossas empresas necessitam como uma pri­oridade política!

c)   Do papel dos grandes clientes de bens transaccionáveis: em­presas de serviço público e Es­tado

Para as grandes empresas produtoras de bens não transaccionáveis mas clientes de equipamentos que o são, infelizmente a capacidade actual de as induzir a uma cultura mais preocupada com a respectiva competitividade é limitada, agora que estão em venda a estrangeiros. A participa­ção de ele­mentos da classe política nacional nas respectivas administrações po­deria teo­ricamente suscitar o renascimento do papel outrora limitadamente praticado. Em alter­nativa, a cria­ção de uma taxa especial sobre os respectivos lucros, destinada ao financia­mento de I&D pelas pró­prias empresas, é uma medida praticada em alguns paí­ses e épocas, sendo fo­mentadora da com­petitividade nacional apenas se envolver empre­sas satélite fornece­doras de bens transac­cionáveis[x].
O mesmo tipo de papel deve desempenhar o próprio Estado, dinamizando tecno­logica­mente os múltiplos serviços que outrora asseguravam a capacidade de decisão in­formada em matérias infra-estruturais, dos planos energéticos[xi] aos das estradas, pas­sando pela Defesa e até pela sociologia das comunidades autárqui­cas, como adiante no­taremos de novo.
Para este efeito de dinamização tecnológica deve o Estado, assim como empresas com Serviço público e outras entidades públicas (por exemplos os Reguladores), ter uma polí­tica de encomenda de produtos, serviços e por vezes estudos, a empresas nacionais ca­pazes de, ala­vancadas nessas enco­mendas, desenvol­verem tecnologia materializável em bens expor­táveis[xii]. Para que tais encomendas efectiva­mente dinamizem a competitivi­dade de empre­sas nacio­nais, nomeadamente no plano tecnológico, recomenda-se:
1.  Que o Estado planifique, o que por sua vez requer que pense a prazo supe­rior ao dos ci­clos eleitorais. Isto por que os tempos de desenvolvi­mento tec­nológico neces­sários para a elaboração de produtos inovadores o exigem.
2.  Que o Estado, as empresas de serviço público e as outras entidades sejam cli­entes exi­gentes mas não “esquisitos”. Devem elaborar as suas especifi­ca­ções de modo a que os produtos a desenvolver sejam competitivos com as alternativas estrangei­ras, mas devem limitar as exigências específicas ao mínimo que garanta eventual­mente alguma protecção aos fornecedores “por encomenda”, mas não tão específi­cas que não pos­sam ser exportadas para mercados externos[xiii].
Tal política de encomendas será muito mais promotora da competitividade do que a mera aspersão avulsa de subsídios à "Inovação".

NOTAS:

[i] Na monografia escrita pelo Professor Domingos de Moura para a Academia de Ciên­cias so­bre a Histó­ria da I&D Electrotécnica em Portugal em 1992, é expressa e justamente referido o tra­balho do Eng. Re­nato Morgado na EFACEC, onde estudava laborato­rialmente em modelos à escala o comporta­mento térmico dos transformadores construídos sob licença estran­geira. Hoje a EFACEC tem fá­bricas de transforma­dores nos próprios EUA e exporta a quase totalidade da sua produção dessas gran­des má­quinas.
[ii] Em 1994, quando iniciávamos o projecto da linha de Protecções Digitais da EFACEC, identifi­quei um certo sub-sistema electrónico cujo desenvolvimento próprio era funda­mental para a viabilidade do produto global. Porém, em Portugal nunca nenhuma empresa conseguira desenvolver esse sub-sistema com sucesso, incluindo a EFACEC, e a tecnolo­gia envolvida ultrapassava a minha especi­ali­dade, pelo que procurei na Universidade cole­gas mais apropriados para o desenvolvimento do re­fe­rido sub-sistema. Defrontei-me então com o facto de nenhum desses colegas estar interessado nesse projecto, por se tratar de tecnologia madura segundo os cânones das revistas internacionais de prestí­gio e não su­portar, portanto, I&D publicável. Este hiato ente as necessidades de conheci­mento tec­no­lógico das empresas nacionais e os interesses de publicação da Universidade já costu­mava ser subli­nhado publicamente pelo Eng. Renato Morgado nos anos 80... (No caso referido, acabei por ter de desenvolver eu o sub-sistema, com a ajuda de um jovem estudante hoje quadro da EFACEC e alguns úteis conselhos do único colega especialista no tema que ti­nha tido também uma experiência indus­trial no assunto).
[iii] Note-se como a Universidade de Praga se tem dedicado a investigar a tecnologia de automó­veis híbri­dos, em apoio à Skoda do grupo VW. Em Portugal, que relações existem entre a Auto-Europa e as universidades ou institutos nacionais? Consideração similar se pode fa­zer relativamente à in­dús­tria eólica e ao famoso “cluster” da ENEOPS...
[iv] No paperHow does foreign direct investment affects economic growth?”, (Journal of Interna­tional Economics, 45, 1998), resume-se: “We test the effect of foreign direct in­vestment (FDI) on eco­nomic growth in a cross-country regression framework, utilizing data on FDI flows from industrial coun­tries to 69 developing countries over the last two decades. Our results suggest that FDI is an im­portant vehicle for the transfer of technol­ogy, contributing relatively more to growth than do­mestic investment. However, the higher productivity of FDI holds only when the host country has a mini­mum threshold stock of human capital. Thus, FDI contributes to economic growth only when a suf­ficient ab­sorptive capability of the advanced technologies is available in the host economy.São parcos os exemplos nacionais de iniciativas económicas sedimentadas em conhecimento ab­sorvido de investimento estrangeiro – compare-se isso com os exemplos asiáticos!...
[v] Na UE, uma empresa é considerada grande se tiver mais de 250 trabalhadores a tempo inteiro ou um volume de vendas superior a 50 M€. É pequena se tiver menos de 50 trabalhadores e um volume de vendas inferior a 10 M€.
[vi] A título de exemplo, a EDP tem tido em desenvolvimento em anos recentes dois projectos com envol­vimento da EFACEC: os carregadores de automóveis eléctricos, e o sistema de tele-contagem do INOVGRID. Relativamente aos primeiros sabemos que a EFACEC não se empenhou excessi­va­mente no primor tecnológico do produto, de que no entanto tem re­alizado algumas exportações, mas de cuja sustentabilidade duvidamos, visto não existi­rem automóveis eléctricos nem seja de prever que venham a existir no futuro próximo. Relati­vamente aos segundos o mercado é vasto, mas o pro­jecto sofre de algumas limita­ções rela­cionadas com as normas internacionais, assunto que abordaremos na parte II.
[vii] Vd. Anne Knott, “The Trillon Dollar R&D Fix”, Harvard Business Review, May 2012.
[viii] Como se sabe, em média e nos países desenvolvidos, metade de toda a despesa pessoal em sa­úde reali­zada ao longo da vida é-o nos últimos seis meses. As tecnologias de engenharia biomédica têm por isso um enorme potencial de inovação e de produção de valor para a fileira do turismo sénior, o qual depende, porém, de outras condições mais básicas, como a segurança e a qualidade de infra-es­truturas.
[ix] Nos anos 80, Renato Morgado notava que em Portugal os industriais de têxteis metiam fibra nos tea­res mecânicos e viam sair do outro lado tecidos, mas de como é que isso sucedia não faziam a me­nor ideia! O mesmo sucedia com os cabos eléctricos, por exemplo. Na re­alidade, quem sabia como o processo ocorria, quem dominava a respectiva tecnologia, eram os fabricantes dos teares e das má­quinas de extrusão dos cabos, em ambos os casos suíços – que no entanto não fabricam nem têxteis nem cabos eléctricos! Estes factos po­dem ser generalizados notando o baixo peso relativo que tem em Portugal a indústria de bens de equipamento, que é onde reside o know-how tecnoló­gico dos pro­cessos que esses equipamentos realizam.
[x] Com a outorga de um dos últimos “pacotes” de geração eólica, o Estado português exigiu aos ganhado­res do “pacote” uma certa percentagem do respectivo valor para a criação de um “Fundo de Apoio à Inovação”. A medida não teve qualquer efeito útil, mas exemplifica a possibilidade de criação de taxas sobre situações de privilégio para o financiamento de I&D a qual deve, porém, ter objectivos e destinatários precisos antes de colectadas.
[xi] Um interessante exemplo é dado pelo planeamento energético da Holanda, um país onde o Es­tado tem uma tradição liberal. Recentemente o Estado holandês desejou tomar decisões estratégicas so­bre o desenvolvimento energético, com vista ao cumprimento das metas eu­ropeias de descarboni­zação, e para não depender de players com interesses no assunto en­comendou o estudo a uma par­ceria de entidades externas: uma empresa alemã especiali­zada, e duas Universidades holandesas concorrentes.
[xii] Um interessante exemplo de encomendas do Estado foi realizado com um estudante português de dou­toramento nos EUA, que investigou, usando a teoria dos jogos de John Nash, a concorrência em mercados de energia liberalizados. A entidade que encomendara esse estudo à Universidade ameri­cana em questão fora... o Ministério Público, que pretendia habilitar-se a detectar indícios de carte­lização naquele mercado!

[xiii] Experiências passadas na EDP e na EDF mostram que a encomenda de produtos “feitos por medida” se garante aos fornecedores um mercado que só eles podem satisfazer, torna também esses produ­tos impróprios para exportação, ao mesmo tempo que o know-how que fundamentou a especifica­ção do produto fica a residir na empresa cliente e não na fornecedora. Ou seja, são práticas sau­dadas pelos fornecedores por serem proteccionistas, mas que armadilharam a sua capacidade de ex­portação. A conveniência de empresas-clientes exigentes foi bem justificada no célebre relatório de Michel Porter.

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