terça-feira, fevereiro 28, 2012

A carestia da electricidade e a fuga da indústria alemã

O conhecido periódico alemão Der Spiegel publicou sexta-feira passada um artigo sobre as consequências para a indústria germânica da decisão do seu Governo, tomada na passada Primavera com o susto de Fukushima, de vir a fechar os reactores nucleares que produzem 20% da electricidade do país (e que, dado o baixo custo da electricidade que produzem, arcam com uma taxa especial para subsidiar as renováveis alemãs).
Segundo as previsões alemãs, esse encerramento das centrais nucleares alemãs implicará um aumento de 20% do custo da electricidade no país, já um dos mais altos da Europa e no Mundo.

Particularmente afectadas serão as indústrias metalúrgicas e em especial as siderurgias, tendo-se já assistido há duas semanas à venda para encerramento da siderurgia Krefeld da ThyssenKrupp, acarretando o despedimento dos seus 400 trabalhadores, ao mesmo tempo que a Administração da empresa avisa que estão em risco 5 mil empregos.
Segundo o Presidente da Câmara de Comércio e Indústria alemã, "The energy supply is now "the top risk for Germany as a location for business," ". Além do problema dos seus elevados custos, também a qualidade da electricidade tem piorado com a crescente dependência das renováveis intermitentes, com um crescendo de cavas e de tremulações de tensão que têm causado lagos prejuízos às sensíveis indústrias pesadas.
De um modo geral, estes factos justificam a esperada deslocalização de grande parte destas indústrias para países de energia mais barata, nomeadamente no leste europeu.
Por outro lado, e apesar das promessas de muitos novos empregos a criar pela "economia verde" das renováveis intermitentes, a realidade recente aponta para uma crise nesses sectores.

Enquanto, nos EUA, 2011 assistiu à falência das altamente subsidiadas Solyndra e Evergreen Solar, a campeã alemã Q-cells está em "reestruturação de dívida", e a recente redução em 30% das tarifas fotovoltaicas pelo Governo alemão suscitou ruidosos protestos do respectivo lobby, mas o facto é que, como em Espanha, o Governo alemão constatou que a um investimento duplo do esperado nessa electricidade (com a correspondente duplicação dos encargos tarifários), não correspondeu uma maior competitividade dos fabricantes alemães, esmagados, como os americanos e espanhóis, pela concorrência chinesa.
Mas também a indústria europeia de aerogeradores vê as suas margens esmagadas e reduz pessoal. A nível mundial, em 2010 as vendas caíram para os níveis de 2007, acusando as dificuldades de obtenção do financiamento que a sua intensidade de capital exige, e os muito prometidos imensos empregos tornaram-se negativos (na figura seguinte, evolução do emprego eólico nos EUA, de 2007 a 2010).
Não parece que a "economia verde" consiga substituir os empregos que destrói com os altos custos que a sua energia comporta. Confirmando o que em tempos prevíramos...

3 comentários:

Anónimo disse...

Curioso como a França aparece no top 10 com tanta nuclear... Se calhar tb é melhor apontar o dedo aos ecotópicos!!!

Pinto de Sá disse...

Isto não é um "top 10"; é apenas uma amostra dos países europeus para efeitos comparativos (a Turquia nem pertence à UE).

Gonçalo Aguiar disse...

Sim, porque se isso fosse top ten, Portugal certamente figuraria no gráfico.