quarta-feira, março 10, 2010

Uma história que é um aviso para quem a escute

Nem todos saberão que a Espanha, em 2008, se tornou o 2º país do Mundo em energia solar, ou mais exactamente, em potência instalada fotovoltaica. 2500 MW, que produzem em média uns 500. O 1º país do Mundo, para quem não saiba, é a Alemanha.
Isto aconteceu porque o Governo de Zapatero decidiu subsidiar essa energia com a extraordinário valor de 58 ç/kWh, umas 15 vezes o que custa a produção do mesmo kWh pelas 9 nucleares espanholas em operação, e na esperança que isso fomentasse o desenvolvimento e maturação da indústria espanhola de equipamentos fotovoltaicos.
Porém, o Governo espanhol não previu a velocidade da corrida ao solar que a sua generosidade iria desencadear, e de repente viu-se a braços com um pesadíssimo encargo, pouca energia produzida, instalações que se avariam e dão repetidos problemas, e sobretudo uma invasão de equipamentos chineses, deixando a indústria espanhola encurralada numa competição que não pode vencer. E baixou o seu prémio, que está agora já só (!!!) em 39 ç/kWh, ainda umas 10 vezes o custo de produção das nucleares.
Resultado: a debandada geral!

O New York Times de ontem conta a história de Puertollano, uma cidadesinha que outrora vivia das minas de carvão e que julgou ver no advento do solar e na procura de terrenos para a sua montagem na região um renascimento económico capaz de reduzir a sua taxa de desemprego de 20%. E conseguiu reduzi-la para metade, de facto... por dois anos.
Agora, com a debandada dos "investidores" (que entretanto tinham criado uma "bolsa" de autorizações para instalação de solares que criou uma verdadeira bolha especulativa que rebentou depressa), Puertollano voltou á taxa de desemprego anterior.
O que ficou foi o encargo para Espanha desses 500 MW médios a serem pagos a 15 vezes o custo de produção normal...
Na Alemanha, que tinha em 2007 um subsídio ligeiramente mais baixo que o espanhol, de 53 ç/kWh, este valor desceu para 43 ç/kWh em 2009 e ocorreu a mesma descida abrupta, ali estando claramente assumido que por causa da constatação pelo Governo alemão de que estava a subsidiar a indústria chinesa. E também houve despedimentos maciços na indústria solar, como contei aqui há uns meses.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, obrigado pelos artigos que tem vindo a colocar aqui. Passei anos sem conseguir encontrar preços ou informação sobre estas coisas, e ultimamente tenho visto muita coisa por aqui de interessante.

Sabe-me informar qual é o preço médio da produção de energia pelas centrais a gás ?
E já agora, se existem preços de energia nuclear para um país que fosse idêntico ao nosso, pequeno e com apenas uma central.

Pinto de Sá disse...

Encontra essa informação sobre os preços da produção em centrais a gás de ciclo combinado e em centrais nucleares neste blog, por exemplo no post "Noções básicas sobre economia da energia" de 15 de Setembro de 2009, e "Uma central nuclear em Portugal? Iniciemos a discussão - parte I" de 7 de Janeiro de 2010.