terça-feira, março 23, 2010

Se tivéssemos energia nuclear em vez de eólica também precisaríamos de bombagem hidroeléctrica?

Tenho ouvido muita gente que pensa que a existência de centrais nucleares também requer obrigatoriamente capacidade de armazenamento de energia para as horas de fraco consumo, ou seja, de bombagem hidroeléctrica, à semelhança das eólicas. Até já ouvi dizer isso a alguns nuclearistas!...
Mas trata-se, de facto, de uma grande confusão.
O plano do Governo é o de virmos a ter 5700 MW de potência eólica instalada, o que ultrapassa em muito o consumo nacional das horas mortas da madrugada, e é por isso que são precisas hidroeléctricas reversíveis que consumam o excedente dessa energia. Essas eólicas todas, +2/3 do que já tínhamos no final de 2009, só de vez em quando produzirão o máximo, que será de uns 5000 MW para o conjunto do país, embora muitas vezes haverá que produzirão mais que o consumo mínimo nacional de 3300 MW, e daí o uso previsto regular da bombagem. No entanto, em MÉDIA, essas eólicas só produzirão 1/4 disso, cerca de 1400 MW, e é este valor que interessa para saber a energia gerada. E isto é assim porque se há ocasiões em que as eólicas poderão produzir os tais 5000 MW, outras haverá e muitas em que só produzirão uns 500 MW. Depende do vento...
Ora um único reactor nuclear típico de 1650 MW produz uma MÉDIA de 1500 MW ao ano (pára uns 9% do tempo, cada ano e meio, para recarga e manutenção), portanto mais energia que os 5700 MW de eólicas, mas nunca ultrapassa os 1650 MW e também raramente desce abaixo disso, a não ser que se queira. E, se nunca ultrapassa os 1650 MW, mal atinge metade do tal consumo mínimo nacional de 3300 MW, e portanto nunca o excede, e portanto não precisa de bombagem nem de armazenamento nem de hidroeléctricas para nada!
Se tivéssemos 80% da energia eléctrica de origem nuclear, como a França, é que o problema se colocaria! Para isso teríamos de ter não 1 mas sim 3 reactores de 1650 MW, que produziriam uma MÉDIA  de 4500 MW, mas geralmente estariam a produzir perto dos tais 5000 MW que as eólicas produzem ocasionalmente. Mas isso era se tivéssemos 80% da electricidade de origem nuclear!...
Os franceses, de facto, usam a bombagem para regularizar a produção das suas nucleares.
Mas basta ver que a Espanha, aqui ao lado, tem 9 reactores nucleares e 6 vezes o nosso consumo nacional de electricidade, e tem muito menos bombagem do que Portugal vai ter depois de construir todas estas hidroeléctricas reversíveis...

2 comentários:

Anónimo disse...

A necessidade deste "post" revela a ignorância de muita gente que pensa perceber alguma coisa deste assunto.

Tenho visto os comentários dos "posts"anteriores e não me deixo de espantar com alguns destes que referem a necessidade de capacidade de armazenamento para as centrais nucleares como se os sistemas eléctricos (mesmo com nucleares) não funcionassem sem armazenamento (pelo menos significativa) há décadas.

No fundo é uma questão de QUANTIDADE. A política actual é a de instalar eólicas dê lá por onde der e se for preciso até em locais onde não há vento.

Acho que o mais razoável seria de fazer um estudo como fizeram outros países (ex.: Reino Unido, EUA,) sobre as necessidades de energia eléctrica no futuro e as tecnologias disponíveis. A solução dependerá de uma optimização do preço com restrições de emissões de C02 e de ordem técnica (para não termos estes disparates de andar a ter armazenamento à força quando um planeamento adequado tê-lo-ia evitado).

Discordo em pleno passar desta maluqueira das éolicas para a maluqueira do nuclear.

São necessárias decisões suportadas em factos e não em mediatismo!

Luís Reis disse...

O Climategate acelerou a difusão, pela imprensa, de investigação sobre a dimensão de aquecimento global (ver, por exemplo, http://climateaudit.files.wordpress.com/2005/09/mcintyre.mckitrick.2003.pdf e http://scienceandpublicpolicy.org/videos/bobcarter.html) e de ciência que questiona se o CO2 emitido pelo homem é, de facto, a sua causa (ver, por exemplo, http://scienceandpublicpolicy.org/images/stories/papers/originals/climate_change_cause.pdf). Considerando que o contraditório é base da ciência e que a promoção das renováveis e do nuclear se continua a basear na redução de emissão de CO2, questiono se não será altura de analisar a sua fundamentação.
Por outro lado, parece que a opção de abandonar as energias convencionais tem levado a que países, como a China e a Índia, beneficiem da redução de procura (apesar da reduçao se dever mais ao desastre financeira de 2008) investindo em convencionais. Será que estes países estão a optar pelas energias caras, como a Europa, que reduzem a sua competitividade? Dito de maneira mais prática, não será uma central a carvão eficiente a melhor opção para o País? E como gerir o custo em que já se incorreu com a eólica?