quinta-feira, março 25, 2010

Mais urânio em saldo!

Ora aí vêm mais Urânio e Plutónio a preços de saldo para as centrais nucleares! Os EUA e a Rússia chegaram a acordo para uma nova redução significativa do número de ogivas nucleares dos seus arsenais!
Como se sabe, nos últimos anos as ogivas desmanteladas na sequência do acordo feito ainda no tempo de Gorbachov e Reagan têm estado a converter-se em energia barata em largas regiões do mundo, depois do respectivo "explosivo" ter sido re-empobrecido da habitual concentração de 80% usada nas bombas para os poucos % necessários nos reactores.
Agora que a Coreia ganhou o contrato de fornecimento de 4 reactores para os Emiratos Árabes Unidos (5000 MW, a instalar até 2020), mas em que os EUA asseguraram o fornecimento do Urânio enriquecido, este acordo de desarmamento permite continuar este feliz negócio: transformar a sucata das bombas atómicas em fonte pacífica de energia!

terça-feira, março 23, 2010

Se tivéssemos energia nuclear em vez de eólica também precisaríamos de bombagem hidroeléctrica?

Tenho ouvido muita gente que pensa que a existência de centrais nucleares também requer obrigatoriamente capacidade de armazenamento de energia para as horas de fraco consumo, ou seja, de bombagem hidroeléctrica, à semelhança das eólicas. Até já ouvi dizer isso a alguns nuclearistas!...
Mas trata-se, de facto, de uma grande confusão.
O plano do Governo é o de virmos a ter 5700 MW de potência eólica instalada, o que ultrapassa em muito o consumo nacional das horas mortas da madrugada, e é por isso que são precisas hidroeléctricas reversíveis que consumam o excedente dessa energia. Essas eólicas todas, +2/3 do que já tínhamos no final de 2009, só de vez em quando produzirão o máximo, que será de uns 5000 MW para o conjunto do país, embora muitas vezes haverá que produzirão mais que o consumo mínimo nacional de 3300 MW, e daí o uso previsto regular da bombagem. No entanto, em MÉDIA, essas eólicas só produzirão 1/4 disso, cerca de 1400 MW, e é este valor que interessa para saber a energia gerada. E isto é assim porque se há ocasiões em que as eólicas poderão produzir os tais 5000 MW, outras haverá e muitas em que só produzirão uns 500 MW. Depende do vento...
Ora um único reactor nuclear típico de 1650 MW produz uma MÉDIA de 1500 MW ao ano (pára uns 9% do tempo, cada ano e meio, para recarga e manutenção), portanto mais energia que os 5700 MW de eólicas, mas nunca ultrapassa os 1650 MW e também raramente desce abaixo disso, a não ser que se queira. E, se nunca ultrapassa os 1650 MW, mal atinge metade do tal consumo mínimo nacional de 3300 MW, e portanto nunca o excede, e portanto não precisa de bombagem nem de armazenamento nem de hidroeléctricas para nada!
Se tivéssemos 80% da energia eléctrica de origem nuclear, como a França, é que o problema se colocaria! Para isso teríamos de ter não 1 mas sim 3 reactores de 1650 MW, que produziriam uma MÉDIA  de 4500 MW, mas geralmente estariam a produzir perto dos tais 5000 MW que as eólicas produzem ocasionalmente. Mas isso era se tivéssemos 80% da electricidade de origem nuclear!...
Os franceses, de facto, usam a bombagem para regularizar a produção das suas nucleares.
Mas basta ver que a Espanha, aqui ao lado, tem 9 reactores nucleares e 6 vezes o nosso consumo nacional de electricidade, e tem muito menos bombagem do que Portugal vai ter depois de construir todas estas hidroeléctricas reversíveis...

segunda-feira, março 22, 2010

Mais sobre a lógica técnico-económica das hidroeléctricas

Neste caso do investimento nas hidroeléctricas têm-se feito umas enormes confusões, havendo até quem pense que eu estou contra o aproveitamento dos recursos hídricos nacionais!
No meu primeiro post sobre este tema, há uns 6 meses, expliquei tudo em detalhe, depois resumi as conclusões, de novo, aqui e aqui, mas até engenheiros licenciados em Energia e Sistemas de Potência por Universidades credíveis me dizem não ter paciência para ler aquilo tudo (!) e quererem que eu "vá directo ao assunto"!...
Vamos lá a ver então se repesco algumas das coisas que já expliquei por aqui, resumindo-as:
  • Um reforço de potência não aumenta a energia hídrica de um rio. A energia que se pode aproveitar da água é a energia mecânica potencial dada pela massa de água vezes a altura da sua queda. "Reforçar a potência" é aumentar a capacidade de turbinar a água, é pôr turbinas mais largas ou pôr mais turbinas, mas isso não aumenta a quantidade dessa mesma água e, portanto, não aumenta a energia que há nas albufeiras. Por conseguinte, um reforço de potência só aumenta a velocidade, a taxa a que se consegue turbinar a água, mas não a quantidade existente dessa água. Potência e energia não são a mesma coisa! Potência é só a a velocidade a que se consegue produzir ou consumir a energia; a única potência de uma central que tem alguma coisa a ver com a energia que ela produz é a potência média, que é a energia efectivamente gerada dividida pelas horas do ano, e não a potência instalada. Nas centrais termoeléctricas, incluindo os grupos Diesel, é que a potência instalada é razoávelmente proporcional à energia, porque essas centrais trabalham regularmente à potência nominal, mas nas fontes renováveis isso não é nada assim! Só trabalham quando há água, vento ou sol!...
  • Os diversos tipos de centrais eléctricas formam um sistema interligado electricamente. Pode-se pensar que construir hidroeléctricas não tem nada a ver com eólicas, solares ou termoeléctricas em termos de operação do sistema eléctrico, mas é errado. As centrais estão todas interligadas electricamente e aos consumidores e complementam-se. A principal necessidade desta complementaridade resulta de o consumo seguir um padrão dário (e semanal, e anual) que depende dos consumidores, enquanto as centrais eléctricas produzem conforme a sua disponibilidade. Em regra uma coisa não confere com a outra, e por isso é preciso um mix de centrais que permitam adaptar a produção ao consumo, ligando ora umas ora outras. No caso das eólicas e do solar, não há mesmo nenhuma controlabilidade e a sua produção é muito intermitente, pelo que há duas soluções teóricas para as compatibilizar com o consumo.
  • A solução economicamente racional para compatibilizar as fontes intermitentes de energia eólica e solar com o consumo é só ter delas uma quantidade limitada. Se as fontes de energia intermitente forem em quantidade moderada, o sistema eléctrico pode adaptar a produção ao consumo usando outras centrais que cubram a diferença, e que existem por mérito próprio: hidroeléctricas com alguma capacidade de armazenamento, que possam suspender a produção quando há da outra energia em abundância, reservando a água que vem dos rios nas suas albufeiras, para a turbinar depois quando há falta, e termoeléctricas de resposta rápida - como as a gás, a parte a gás das de ciclo combinado, e parcialmente as a carvão e as modernas nucleares. Não exceder o razoável que permita este funcionamento complementar é não ter mais que para aí uns 10%, 15% no máximo, do total de energia de origem eólica e solar!
  • A outra solução que tem custos absurdos é construir gigantescos armazéns de energia. Se as fontes intermitentes eólica e solar ultrapassarem o valor de referência que apontei, haverá muitas ocasiões em que não produzem quase nada e é preciso ter termoeléctricas para as substituir, que têm de existir e ser pagas mesmo que em média se usem pouco, e por outro lado haverá outras ocasiões em que produzem mais que o consumo. E é aqui que a única solução para este problema é ter maneira de armazenar essa energia ocasionalmente excedentária! Ora esse armazenamento é caríssimo e só se justifica por haver excesso, e apenas pontualmente, de energia eólica ou solar, e é esse o papel das hidroeléctricas reversíveis - que consomem esse excesso de energia eólica e solar bombeando água para as albufeiras, para depois a devolverem quando há de novo falta de energia no sistema - mas perdendo, nesse processo, cerca de 1/4 da energia produzida por essas eólicas e solares!
  • Se as hidroeléctricas planeadas fossem só para aproveitar os recursos hídricos, o investimento associado, que terá de ser pago pelos consumidores, seria muito menor. Dos 4900 milhões de € falados para a totalidade das novas hidroeléctricas, pelo menos 1000 a 1500 milhões serão para os 6 reforços de potência reversível de aproveitamentos que já existiam e que, como expliquei, não vão produzir mais energia do que a que já havia; vão apenas servir para armazenar energia de origem eólica. E, dos outros 3400 a 3900 milhões, também provavelmente menos de metade chegariam para dar uso à agua dos respectivos rios. O grosso desses investimentos vai ser para criar o tal armazenamento de energia eólica e solar.
Em suma, não é contra a exploração dos recursos hídricos nacionais que eu me manifesto. É contra o excesso de energia eólica e solar (esta, prevista) que, além de caríssimas, pouca incorporação nacional contêm e, ainda por cima, exigem agora dispendiosos meios de armazenamento de energia para poderem continuar a crescer muito acima do técnica e economicamente razoável!

Explicando as contas da energia que vão produzir as hidroeléctricas como se fossem muito burros

Algumas pessoas parecem incrédulas com as contas que tenho apresentado sobre a energia nula ou mesmo negativa que os novos investimentos hidroeléctricos em projecto ou construção vão produzir, pelo que vou tentar explicar essas contas da forma mais simples que consigo, partindo do princípio que quem me lê nada sabe de engenharia.
  1. As 8 novas barragens do "programa nacional de barragens com elevado potencial hidroeléctrico" (PNBEPH) vão produzir em média anual, de origem hídrica, 128 MW. Mais as 2 de Ribeiradio e Sabor, e mais os reforços de potência em outras 6, temos um total de 175 MW. Estas contas fazem-se dividindo a energia média anual constante da própria memória descritiva do PNBEPH pelas 8760 horas do ano.
  2. Segundo os números disponíveis no site da EDP, quando as barragens estiverem prontas, no total produzirão anualmente em média 17,9 TWh em bruto, mas só 13,3 "líquidas de bombagem". Quer isto dizer que a diferença entre esses dois números é a energia produzida a partir da bombagem, o que dá 525 MW em média anual.
  3. Como o rendimento total do processo de bombagem e posterior turbinagem é de 75%, para que as barragens produzam 525 MW de origem eólica, têm de consumir 4/3 disso, ou seja, 700 MW.
  4. No total, portanto, as barragens produzirão em média 525+175= 700 MW, mas também consumirão 700 MW de origem eólica (ou solar). Portanto, o saldo energético das barragens será nulo.
Poderão dizer que não faz mal porque os investimentos serão privados e não do Estado, que é bom aproveitar os recursos hídricos nacionais e gerir as águas, etc. Tudo isto já aqui foi discutido, excepto a questão da gestão das reservas de água.
Quanto a este aspecto, noto apenas que a própria memória descritiva do PNBEPH diz que foram consultadas as autoridades do assunto relativamente a cada barragem e nenhuma manifestou interesse na água, com excepção do Alvito.

domingo, março 21, 2010

Uma cental nuclear levaria 10 a 12 anos a realizar?

Recentemente e quase em simultâneo, o Ministro da Economia do Governo PS e o ex-ministro do último Governo PSD e actual Presidente da EDP convergiram numa mesma e curiosa afirmação sobre a opção nuclear para o sistema energético nacional: que ela levaria 10 a 12 anos a realizar e, portanto, que isso seria demasiado tempo para as urgências energéticas nacionais. Simultaneamente, e em perfeita convergência de centrão, ambos defenderam a continuação da aposta nas renováveis e em particular a construção dos aproveitamentos hidroeléctricos projectados.
Ora na verdade não há razão nenhuma, na própria lógica em que ambos estes senhores raciocinam, para que a opção nuclear tenha que levar tal prazo a realizar. Basta um ano para realizar o Caderno de Encargos e 4 para a construção, pelo que se quisessem fazer tal opção na realidade em 5 anos, 6 no máximo, poderiam ter a tal central nuclear em Portugal.
Quem apontou para um prazo de uns 10 a 12 anos fui eu, mas porque defendi que tal escolha fosse feita com o tempo necessário para que o país se preparasse e tirasse o melhor partido dela, ao contrário do que tem sido feito com as renováveis e da lógica com que estes senhores raciocinam. Porque, se ainda não tivéssemos feito nenhuma opção relativamente às renováveis e estivéssemos agora a considerá-las pela primeira vez, eu defenderia exactamente o mesmo: que houvesse tempo para o país criar uma indústria nacional com tecnologia própria antes de se começarem a montar eólicas e solares, de modo a que elas fossem de fabrico e concepção nacionais, quando viessem!
A bem das tais criações de emprego e de valor acrescentado de que o país tanto necessita e que têm sido tão mistificadoramente desprezados por estes senhores!

E entretanto, um novo apostador no futuro do nuclear como opção energética principal e no desenvolvimento das respectivas tecnologias e indústrias se está a juntar ao binómio EUA-Japão, à França e à Coreia: a Rússia! Com efeito, há dias o New York Times descrevia os desenvolvimentos em curso na Rússia de reactores relativamente pequenos, de apenas 300 MW e capazes de serem transportados de comboio e adaptados a velhas centrais a carvão onde poderão substituir as fornalhas destas mas aproveitar toda a restante estrutura de produção de vapor, desenvolvimentos que visam mesmo chegar a mini-reactores de apenas 100 MW a produzir aos milhares...

sexta-feira, março 19, 2010

Os "multiplicadores de empregos" e os 30 mil que o Governo diz existirem nas energias renováveis em Portugal

Um interessante conceito do cálculo de impacto económico de uma determinada política que vise gerar empregos, é o dos "multiplicadores de emprego", uns factores que relacionam o número total de empregos directos criados e o número de empregos indirectos induzidos por estes.
Para introduzir conceitos, dou um exemplo: se para construir uma barragem atrás do sol posto são precisos mil trabalhadores durante 3 anos (com um pico de dois mil no auge da obra), há também que os alimentar, transportar, divertir e alojar, pelo que haverá um número razoável de empregados de tascas, de alugadores de quartos, de trabalhadores de lavandaria, de motoristas e de empregados de quiosques de venda de tabaco e jornais desportivos e até de animadoras nocturnas que deverão o seu ganha-pão a esses empregos directos.
Estes são empregos indirectos criados pelos directos, os dos trabalhadores da obra. E quantos serão?
Não é fácil saber, visto que não se faz um recenseamento centralizado desses empregos como se faz dos directamente criados pela obra mas, à falta de um estudo feito no terreno, podemos usar "multiplicadores de emprego" obtidos em estudos feitos noutros locais e para este tipo de trabalho. Não obtemos números exactos, mas teremos pelo menos uma estimativa, uma ideia, vá lá. Alguns trabalhos internacionais indicam um "multiplicador de emprego" de 1,6 associado à construção civil em geral, o que apontará para 1600 empregos gerados pelos mil da construção da tal barragem. Tão temporários quanto estes, claro...

A maioria dos multiplicadores de emprego associados às diversas actividades industriais varia, por exemplo, entre os 2,2 atribuídos às indústrias de produtos metálicos acabados e o máximo de 6,9 associados às extracções de petróleo e gás natural. De um modo geral, quanto mais a montante numa cadeia produtiva está uma actividade, mais empregos se pode considerar que são induzidos (a jusante) por essa actividade.
Uma boa fonte de informação sobre estes números é o Bureau of Economic Analysis (BEA) norte-americano. Claro que esses dados têm de ser usados com sentido crítico, porque os referidos multiplicadores variam muito de actividade específica para actividade específica, de região para região e até com a época. Mas, à falta de melhores referências, sempre nos servem para uma estimativa, uma ideia da ordem de grandeza, vá lá. Isto se encontrarmos dados que sirvam as nossas necessidades específicas...
Como o cálculo do emprego indirecto gerado pelo directo tem de recorrer a muitas hipóteses e informações cruzadas, ele pode procurar ser rigoroso, usando modelos matriciais de Input-Output, ou pelo contrário muito simples.
No limite e de acordo com a teoria marxista, o simples preço final de uma mercadoria reflecte a quantidade de trabalho que ela incorpora e, portanto, o emprego que requereu!
Nesta medida, por exemplo, quanto mais cara for uma fonte de energia eléctrica, tanto mais emprego cria, o que é no fundo o argumento dos que defendem que as energias renováveis criam mais emprego que as tradicionais.

Claro que este tipo de extrapolação é passível de múltiplas manipulações e omissões, conforme os interesses em jogo no que respeita a captar subsídios públicos. Além de passíveis de grandes exageros, os "multiplicadores de emprego" esquecem-se muitas vezes de quantificar que percentagem de cada emprego indirecto é efectivamente dedicado a satisfazer o directo, quanto tempo duram esses empregos, que empregos são destruídos ou se perdem pelo advento dos novos e, sobretudo, onde são esses outros empregos criados (se no estrangeiro, se no próprio país)!
Segundo o hyperlink que fiz acima, por exemplo, a mineração do carvão nos EUA empregava directamente 80 mil trabalhadores em 2001 e geraria mais 351,6 mil empregos indirectos (num total de 432 mil) e, segundo outras fontes credíveis, a esse número haverá que somar 31 mil no transporte e mais 60 mil nas centrais eléctricas a carvão, considerando embora que o número de empregos indirectos será da mesma ordem de grandeza da indicada antes (algumas poucas centenas de milhar), o que aponta para um "multiplicador de emprego" da mineração do carvão de uns 4.5.  Porém, a Associação Nacional de Carvão dos EUA estima em 1,5 milhões os empregos totais (directos e indirectos) criados pelo carvão, o que evidentemente está afectado de um "sobre-multiplicador político de emprego " de pelo menos 4 (x4.5...)!

Vem tudo isto muito a propósito do número de empregos afirmado no PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento) como existente presentemente em Portugal, gerado pelas energias renováveis. Esse número é de 30 mil. E como terá sido esse número tirado?

Ora no relatório da Deloîtte feiro para a APREN e apresentado publicamente com grande pompa e circunstância nos finais do ano passado, o número era nos finais de 2008 de 36 mil. Só que, como o relatório mostra (pag. 8), esse número é a soma dos empregos indirectos estimados (33,7 mil) com os directos realmente recenseados: 2,4 mil! Este número não está longe do que eu tenho estimado para o presente, 3 mil, pelo que deve ser real.
Porém e pelo que reflecti convosco até aqui, dada a natureza de fim de cadeia produtiva da actividade nacional na matéria, o multiplicador de emprego plausível associado a estas actividades deve ficar algures entre o das actividades comerciais e o das indústrias de produtos acabados, ou seja e como ordem de grandeza, 2. Teremos, assim, induzidos por esses 2,4 mil empregos directos (ou 3 mil...), mais uns 5 a 6 mil empregos - mas quantos deles em Portugal?
Pelo que o número de 30 mil empregos alegados pelo Governo como existentes no presente deverão estar afectados de uma sobre-multiplicação política por um factor entre 3 e 5, e já é uma moderação do sobre-multiplicador da APREN, que será de uns 6!...! E, como não se precisou que se tratam de empregos reais somados a indirectos estimados, dando a entender ao povo ignaro que são todos directos, o sobre-multiplicador político é cerca de dez!...

Quanto aos números do futuro, os 120 mil empregos previstos para daqui a 10 anos, quando o nosso mercado já estiver saturado, são pura especulação.
Mas uma coisa é certa: para realizar as metas de Bruxelas será preciso fechar a central a carvão de Sines e "prescindir" do seu pessoal, o que os seus 500 trabalhadores directos e os indirectos que trabalham para os muitos empreiteiros que operam na Central há muito tempo justificadamente receiam - como também os das Centrais termoeléctricas de Setúbal e Carregado, e ainda os respectivos fornecedores de tabaco e jornais, frutarias e mini-mercados que os abastecem, e todos os outros empregos indirectos dependentes destes, na fila para o desemprego...

quinta-feira, março 18, 2010

Programar a Inovação tecnológica, doença infantil do planeamento económico

Uma das facetas do voluntarismo messiânico dos ecotópicos (um "nick" para ecologistas utópicos) é a crença de que o seu desejo de novas tecnologias "verdes" se pode tornar realidade pela fé, por muito o quererem, e por para tal financiarem os cientistas. E, por acreditarem nesta capacidade de o desejo se tornar realidade pela simples "muita vontade", têm o hábito de programar o futuro a contar com tecnologias que não existem e de que nem se faz a menor ideia de quando, como e a que custo virão a existir.

Exemplos gritantes desta fé utópica no desenvolvimento tecnológico, que assenta muito na "cultura científica" do Media Market, Nokias de última geração e plasmas de Alta Definição, são o automóvel eléctrico e a energia solar. De facto, essa fé está patente até em planos de Estabilidade e Crescimento de Governos responsáveis por países europeus, como por exemplo Portugal!...
O automóvel eléctrico sofre do problema da curta vida e alto custo das melhores baterias que se conhecem, e o solar a mesma coisa quanto ao Silício. Mas os ecotópicos acreditam que tudo se vai resolver com a mesma facilidade com que vão aparecer os "plasmas 3D"...
Ora estas duas desejadas tecnologias sofrem, como já discuti por aqui, de obstáculos tecnológicos de que não se faz (ainda) ideia de como ultrapassar, e por isso nenhum organismo internacional sério, incluindo o Painel Climático Inter-Governamental da ONU, fazem projecções para elas a prazos inferiores a 20 anos, 10 na melhor hipótese!...

Mas será que se se "apostar em força" não se conseguirá resolver esses problemas tecnológicos, saltando etapas e chegando lá mais depressa?

É chegado a esta questão que assomam à minha memória já bastante vivida os vários grandes projectos tecnológicos da História recente em que se apostou com voluntarismo semelhante e que não deram em nada.
O que melhor ilustra o fiasco deste tipo de voluntarismo é o "projecto da 5ª geração de computadores", decidido pelo Governo japonês nos anos 80, e que iria dar ao Japão a supremacia na competição então travada com os EUA pelo domínio da tecnologia de computadores.
O projecto teve financiamentos colossais, reuniu numa "cidade científica" enormes recursos, com a participação de todas as grandes empresas japonesas do sector, da Hitachi à Toshiba, e tinha um núcleo selecto de 100 jovens génios, que se esperava que conseguissem realizar o tal computador. Este caracterizar-se-ia por entender a linguagem humana falada e assentar na Inteligência Artificial, que à época se esperava que em breve produzisse máquinas como a ilustrada no filme "War Games", para aplicações pacíficas corriqueiras.
Não deu em nada. O que apareceu foi algo que ninguém previra noutras regiões do mundo, os computadores pessoais. E a Inteligência Artificial, pela qual eu próprio me entusiasmei à época (e de que ainda conservo um secreto entusiasmo), também não deu em nada do que se esperava.
Passados uns anos já toda a gente desistira de ter computadores que entendessem a linguagem humana falada e se ficava contente com a ideia de máquinas com a inteligência de insectos mas cooperantes, como as formigas...
O Japão, de resto, tendo uma histórica tradição de fascínio pela tecnologia como o nosso Fernão Mendes Pinto comprovou, é rico em histórias destas. E são eles, que inventaram as baterias de iões de lítio para os telemóveis da Sony, os primeiros a dizer que não é tão cedo que haverá alternativa aos automóveis híbridos, pois os puramente eléctricos nem sequer estão no horizonte...

Mas não há mesmo casos de projectos de inovação tecnológica cuja programação tenha sido suficiente para garantir resultados?
Há. Alguns.
Mas tiveram todos uma característica comum: o custo do produto final não interessava, desde que a tecnologia funcionasse. Refiro-me, é claro, a um dos dois únicos ramos da tecnologia onde isso acontece, onde o preço não interessa desde que solução funcione: a militar!
O projecto mais emblemático de demonstração do voluntarismo tecnológico que obteve o resultado pretendido foi o projecto... Manhatan! O da bomba atómica! Para quem o ignore, os recursos investidos foram tais que, por exemplo, à época os EUA compraram quase toda a prata que havia à venda no mundo, entre outros ingredientes do projecto!...
O projecto de desenvolvimento da bomba atómica foi bem sucedido mas nem mesmo esse demonstra que todo e qualquer projecto de desenvolvimento de tecnologia militar consegue chegar aos resultados pretendidos!
Um exemplo de fracasso de um projecto destes (paralelo ao japonês dos computadores de 5ª geração) foi o da "guerra das estrelas" de Reagan.
O projecto da "guerra das estrelas" requeria várias inovações tecnológicas, desde canhões de laser montados em satélites a mísseis anti-mísseis de alta precisão, e algumas destas tecnologias vieram a ser conseguidas (nomeadamente a dos mísseis anti-mísseis), mas havia uma componente no sistema que nunca se conseguiu realizar: um software de gestão de batalha sem bugs! E por isso, 30 anos depois o projecto reduziu-se à modesta ambição de conseguir deter uma meia dúzia de mísseis balísticos iranianos, que é o que hoje resta dele...

Coisas que quem acredita que a fé pode mover montanhas, neste caso realizar automóveis eléctricos e painéis solares baratos e fiáveis em prazo previsível, e mete essa fé em programas de governação, devia ter em conta...!

quarta-feira, março 17, 2010

O porquê do estudo da APREN não ser público - retratado

Tenho que me retratar da consideração que fiz de o estudo da APREN não ser público.
De facto na altura da apresentação não o era, e um leitor disse-me que o pretenderiam apresentar primeiro aos sócios.
Passaram meses, fiz uma busca na net e não vi referência nenhuma, e dei-o por não publicado.
Afinal há minutos soube que havia quem o tivesse (versão impressa), e entretanto alguém me mandou o link para o texto. O documento tem um mês de existência impressa e dizem-me que foi colocado ontem no site onde está, mas de qualquer forma já é público, portanto. Vou lê-lo e depois darei conta das minhas impressões.
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Bem, agora depois da apresentação do programa do Governo para a energia feita ontem, já percebi porque nunca foi tornado público o tal estudo da APREN encomendado à Deloîtte e apresentado com grande pompa e circunstância no início de Dezembro de 2009 num hotel de Lisboa. Na verdade, nunca se tratou de um estudo de economia, mas de um simples exercício de propaganda em que tudo é inventado do princípio ao fim e por isso é impossível apresentar os seus fundamentos.
A apresentação feita há 4 meses e meio foi apenas o ensaio da que viria a ser feita ontem pelo próprio Governo.

terça-feira, março 16, 2010

E depois das barragens feitas, quantos empregos terão elas criado?

O plano de construção das novas barragens, que como já sobejamente demonstrei vão produzir energia nenhuma, tem sido invocado como um dos grandes projectos do Governo para a criação de "dezenas de milhar de empregos".
Também já expliquei que esses empregos são de construção civil, mal pagos e em alojamento em regiões deslocadas, e que duram só parte dos 4 anos de construção típicos de uma barragem.
Porém, a questão que quero colocar é a seguinte: depois de todas as barragens construídas, quantos empregos ao certo ficarão depois, em permanência? Será possível saber com rigor?
É. Esse número foi dito numa entrevista ao Expresso de um Administrador da EDP, publicada num suplemento especial dedicado a estas barragens, em Maio de 2009. O número é... 84 empregos!
Por outro lado, sabendo-se que só a amortização destas barragens vai requerer um aumento de uns 6% do preço da electricidade, fica a questão de quantos empregos serão destruídos pelo efeito desse encarecimento na economia e na retracção do poder de compra das famílias...

segunda-feira, março 15, 2010

Outro estudo alemão sobre o impacto económico das energias renováveis - e que é feito do estudo da Deloîtte e da APREN sobre Portugal?

Há cerca de um mês mencionei um estudo alemão, de 2006, do Bremer Energie Institut, que postulava que à criação temporária de emprego pela "economia das energias renováveis" se seguia a destruição duradoura de outro resultante do aumento do custo da energia para as actividades económicas e da decorrente retracção de poder de compra das famílias.
Dias antes dera conta de um trabalho similar publicado em 2009 pela Universidade Juan Carlos de Madrid que era ainda mais radical nas conclusões extraídas e que, em particular, relatava os devastadores efeitos que o rebentamento da "bolha solar" tivera em várias regiões espanholas.
Esta "bolha" resultou da especulação que se criou com a política de concessões de autorizações para "pontos de acesso à rede", em que se procuraram essas concessões não para realizar instalações solares, mas sim para as vender a quem desse mais!
A mesma coisa que se passa por cá com a microgeração e o acesso ao portal das respectivas concessões que, como todos os interessados sabem, foi permanentemente bloqueado por uns "espertinhos"...
Cruzando as fontes do trabalho espanhol com outras que eu conhecia, concluí que a alegação segundo a qual por cada emprego temporário criado pelas renováveis eram destruídos 2.2 não era numericamente rigorosa: por cada emprego temporário será destruído um duradouro, apenas - ou seja, ao fim de uns anos vai-se o emprego temporário e ficam dois desempregados, o do emprego temporário e mais um resultante do aumento do preço da energia. Os números do trabalho espanhol poderão não ser exactos, mas a ideia geral é.
Dias depois do meu post o Expresso noticiou este estudo, e descobri recentemente que este trabalho espanhol já fora publicamente referido por Bjorn Lomborg, o "ambientalista céptico" dinamarquês.

Ora há alguns meses foi publicado um novo estudo alemão sobre a economia das renováveis e o seu impacto na Alemanha, do Instituto para a Investigação Económica do Reno-Westefália, cujo texto pode ser encontrado aqui. O novo trabalho é deveras exaustivo e, além de listar detalhadamente os estudos anteriorermente feitos sobre a questão do emprego na Alemanha associado às renováveis, invocando também a incapacidade recente da indústria alemã conseguir competir no seu próprio mercado com os produtos chineses, faz uma crítica exaustiva ao princípio de subsidiação directa aos produtores de renováveis,  particularmente aos da energia solar, implementado pela Alemanha desde 1991 (e também por cá), de que realço os seguintes pontos:
  • A subsidiação directa às várias formas de energia renovável desincentiva a inovação, ao garantir um prémio à tecnologia existente. Isto é particularmente grave no que respeita à energia solar, porquanto estimula a manutenção da tremendamente cara tecnologia de silício e desencoraja a Investigação nas tecnologias de películas finas;
  • Desincentiva também a competição entre diferentes tecnologias renováveis, ao estabelecer um valor fixo para cada uma; este desincentivo à procura de evolução tecnológica é reconhecido pela Agência Internacional de Energia, que desencoraja o método da subsidiação directa e específica às renováveis
  • Desencoraja e distorce o mercado de emissões de carbono. Sendo o preço máximo já atingido da tonelada de CO2 neste mercado de 30 €, como este preço é muito inferior ao do custo das renováveis necessário para evitar a emissão de tal tonelada, o resultado é que as utilities que têm preferido pagar por tais emissões acabam por conseguir os mesmos resultados face à legislação europeia mas a muito menores custos. Daqui resultará uma redução da ordem dos 20% dos lucros das utilities alemãs, e uma subida correspondente dos da ENEL italiana, por exemplo.
Entretanto, há 4 meses e meio os jornais noticiaram profusamente os resultados de um estudo feito pela Deloîtte sob encomenda da APREN contendo promessas estonteantes de enormes progressos para a economia portuguesa da actual política energética pró-renovável, e que mereceu honras de solene apresentação num Hotel de Lisboa (hotel pago por quem?). Na altura dei conta que o tal estudo não estava acessível ao Público de modo a se poder escrutinar os raciocínios subjacentes, e fiz um desafio à APREN para que divulgasse esse estudo.
Ainda estamos todos à espera que a APREN divulgue o tal estudo...

domingo, março 14, 2010

E de como a "exportação da tecnologia nacional em energias renováveis" virá a aumentar a nossa dívida, em vez de a reduzir!

A propósito do post que escrevi aqui há dias sobre a "venda" de energias renováveis que o nosso 1º Ministro foi promover a Moçambique, recebi um interessantíssimo esclarecimento de alguém que conhece bem estas coisas e que tem uma competência a toda a prova, e que passo a partilhar convosco.

A propósito do seu post sobre Moçambique, deixe que lhe conte a fase 1 destes negócios de renováveis em África, para ver que nada daquilo é inocente e inconsequente. Este é o continuar de uma estratégia de financiamento às empresas do regime, de uma forma muito pouco ou nada transparente.
Vamos então falar de um recente sucesso económico, também contado pelo Público: “Martifer instala dois parques solares fotovoltaicos em Cabo Verde” informa este jornal que “De acordo com um comunicado da empresa, a Martifer Solar, empresa do Grupo Martifer, SGPS, assinou um contrato com o Ministério da Economia, Crescimento e Competitividade (MECC) de Cabo Verde para o fornecimento e instalação “chave-na-mão” de dois parques solares fotovoltaicos nas ilhas do Sal e Santiago, com um valor de cerca de 30 milhões de euros.”

Fantástico, não é? Estamos a exportar para África, a vender ao estrangeiro, e por essa via a aumentar o nosso PIB.

Vamos então recuar até Março do ano passado, quando o nosso Primeiro, em visita a Cabo Verde anunciou a abertura de uma linha de crédito de 100 milhões de Euros para apoiar projectos cabo-verdianos nas energias renovaveis (para Moçambique parece ter sido aproximadamente o dobro do valor, vamos ver se a CGD coloca cá fora dados sobre a linha de crédito). Mas, sendo os beneficiários finais entidades Cabo-verdianas que irão contratar fornecedores portugueses, e concretizarão os projectos a financiar ao abrigo da linha, mas com garantia do Estado Português. Vamos agora juntar isto ao facto de o sector eléctrico em Cabo Verde ser ainda muito débil e haver muita falta de água. Face a isto, e para começar, o que é que ocorreu de melhor em algumas doutas cabeças? Investir 30 milhões da linha de crédito, aberta pelo Governo português, em duas centrais de energia solar fotovoltaica.

Quem vai pagar isto?
Após o fim do período de carência do empréstimo, muito generoso diga-se de passagem (10 anos+5 anos), já será visível o buraco financeiro do projecto com a impossibilidade de recuperar os custos de investimento e pagar os elevados custos de manutenção (na hipótese de este ainda estar a funcionar), logo o Governo local vai achar que tem um justificado capital de queixa para pedir perdão da dívida, ou no limite uma renegociação, chutando-a para as calendas. Assim, já ficou bom de ver quem paga mais este sucesso económico da indústria das energias renováveis: os mesmos de sempre – o avalista, ou seja os contribuintes portugueses! Mas também é verdade que isto não é nada que os governantes portugueses não estejam à espera.

Mas não havia aqui uma boa notícia? Claro que há – para a Martifer, que já ganhou esta adjudicação no valor 30 milhões, sem que o Governo português tenha, no mínimo, sujeitado a utilização da linha de crédito à abertura de um concurso público para empresas nacionais, ao contrário do que fazem os outros países financiadores, por norma. E este é que é o facto grave, desta política de apoio à economia.

Assim se conta mais um enorme sucesso português ligado às energias renováveis, e a subida de mais um degrau da dívida pública de Portugal. Outros virão, e como já se viu Moçambique será o próximo (mas com adjudicação directa, que lá fora o Tribunal de Contas não se mete).

quarta-feira, março 10, 2010

Uma história que é um aviso para quem a escute

Nem todos saberão que a Espanha, em 2008, se tornou o 2º país do Mundo em energia solar, ou mais exactamente, em potência instalada fotovoltaica. 2500 MW, que produzem em média uns 500. O 1º país do Mundo, para quem não saiba, é a Alemanha.
Isto aconteceu porque o Governo de Zapatero decidiu subsidiar essa energia com a extraordinário valor de 58 ç/kWh, umas 15 vezes o que custa a produção do mesmo kWh pelas 9 nucleares espanholas em operação, e na esperança que isso fomentasse o desenvolvimento e maturação da indústria espanhola de equipamentos fotovoltaicos.
Porém, o Governo espanhol não previu a velocidade da corrida ao solar que a sua generosidade iria desencadear, e de repente viu-se a braços com um pesadíssimo encargo, pouca energia produzida, instalações que se avariam e dão repetidos problemas, e sobretudo uma invasão de equipamentos chineses, deixando a indústria espanhola encurralada numa competição que não pode vencer. E baixou o seu prémio, que está agora já só (!!!) em 39 ç/kWh, ainda umas 10 vezes o custo de produção das nucleares.
Resultado: a debandada geral!

O New York Times de ontem conta a história de Puertollano, uma cidadesinha que outrora vivia das minas de carvão e que julgou ver no advento do solar e na procura de terrenos para a sua montagem na região um renascimento económico capaz de reduzir a sua taxa de desemprego de 20%. E conseguiu reduzi-la para metade, de facto... por dois anos.
Agora, com a debandada dos "investidores" (que entretanto tinham criado uma "bolsa" de autorizações para instalação de solares que criou uma verdadeira bolha especulativa que rebentou depressa), Puertollano voltou á taxa de desemprego anterior.
O que ficou foi o encargo para Espanha desses 500 MW médios a serem pagos a 15 vezes o custo de produção normal...
Na Alemanha, que tinha em 2007 um subsídio ligeiramente mais baixo que o espanhol, de 53 ç/kWh, este valor desceu para 43 ç/kWh em 2009 e ocorreu a mesma descida abrupta, ali estando claramente assumido que por causa da constatação pelo Governo alemão de que estava a subsidiar a indústria chinesa. E também houve despedimentos maciços na indústria solar, como contei aqui há uns meses.

sábado, março 06, 2010

Vender energias renováveis a Moçambique

Na sua recente visita à ex-colónia portuguesa de Moçambique, um país com 9 vezes a dimensão de Portugal e quase 2 vezes a nossa população, mas com um PIB igual a 10% do nosso e do qual a comunidade internacional subsidia a fundo perdido metade do Orçamento Geral do Estado, foi anunciado que o nosso Primeiro-Ministro ia vender energias renováveis, dada a alegada posição de vanguarda portuguesa nas respectivas tecnologias.

Moçambique tem um povo amável e pacífico, contrastante com o de outros países de África, mas onde as novas gerações já raramente falam português. Quase tudo o que lá funciona é obra de estrangeiros, de ONG, de alguns portugueses e de muitos sul-africanos, razão porque o inglês é a língua estrangeira dominante e porque Moçambique decidiu há anos aderir à CommonWealth.
Uma coisa que não existe em Moçambique é uma rede eléctrica nacional.
Na realidade, Moçambique produz 30% da electricidade produzida em Portugal, bastante mais que o seu PIB relativo, mas a grande maioria é para exportação. Na realidade, quando no final dos anos 60 Portugal construiu a grande barragem de Cabora Bassa, ainda hoje uma das maiores do Mundo, o seu intuito foi desde o início a exportação de energia para a África do Sul, ideia que levou décadas a pôr-se em prática devido às longas guerras que o impediram por muitos anos.
Moçambique produz 30% da electricidade gerada em Portugal mas só consome 3%. O resto é exportado para a África do Sul.
Maputo, por exemplo, é abastecida de energia por linhas de Alta Tensão que vêm da África do Sul, acompanhando uma estrada por onde passa um fluxo constante de carrinhas e camionetas carregadas de produtos alimentares e de quase tudo o resto que se consome na capital.
Mas, no resto do país, onde há electricidade predomina a "microgeração" dos grupos electrogéneos a gasóleo e, em algumas cidades de província, energia produzida por turbinas a gás montadas em contentores e importadas - como quase tudo - da África do Sul. De facto, Moçambique tem gás natural, e as reservas de gás natural de Moçambique estão já a escoar-se para aquele país vizinho.
As incipientes redes eléctricas das cidades de província são de estrutura tipicamente sul-africana, com um funcionamento intermitente e precário, de modo que fiquei com curiosidade em saber que energias renováveis iria Portugal vender a Moçambique.
Claro: a notícia foi dada no início da visita, com toda a probabilidade para consumo interno do pagode português de modo a alimentar a fantasia de que até exportamos tecnologias de energias renováveis, e depois nunca mais se falou do assunto.
Como não podia deixar de ser.
As energias renováveis exigem redes eléctricas potentes com grandes centrais convencionais que assegurem o controlo das redes, e muito dinheiro, porque são caras. Nunca será por aí que os países pobres de África irão, a menos que os dadores internacionais paguem tudo e fiquem lá a manter as instalações a funcionar, isto é, a menos que o colonialismo volte.

sexta-feira, março 05, 2010

Bruxelas financia a Super-Rede

Parece-me lógico que sendo a Super-Rede eléctrica uma construção europeia, seja Bruxelas que a financie.
E Bruxelas vai financiar alguma coisa. 50 milhões de € para ajudar a ligação da nossa rede à de Espanha, dizem as notícias. E qual a parcela que vai sair do bolso dos consumidores de electricidade portugueses para pagar essas linhas de interligação?