quarta-feira, dezembro 23, 2009

A "taxa sobre o Carbono" francesa e a "divisão europeia"

Diz hoje na imprensa o nosso pensamento único sobre o clima, que "a Europa está dividida sobre a aplicação de uma taxa de carbono" sobre os países que, em Copenhaga, não subscreveram as propostas europeias para a redução das emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE).
Lendo assim a notícia, parece que a tal divisão entre os países europeus seria uma questão de fervor na adesão à causa ecotópia. No entanto...
Quem é que propõe a tal "taxa sobre o carbono"? A França! E quem é que se lhe opõe? A Alemanha!
Não acharão os jornalistas estranho que seja a França a propor a tal "taxa sobre o carbono", quando em matéria de causas climáticas ela tem andado caladinha, e que seja a Alemanha a opor-se, quando tem sido ela a grande campeã dessa causa?
Ora qual é a situação da França em matéria de emissões de GEE? É boa. Porque 80% da sua energia eléctrica é de origem nuclear, que como se sabe não deita fumo (nem CO2), e 10% de origem hidroeléctrica. A França, graças ao seu já antigo desenvolvimento da aposta nuclear, é um país que se pode arvorar em campeão "green" sem ter tido de mudar rigorosamente nada no seu modo de vida. Aliás, essa "verdura" efectiva coexiste com uma atitude de evidente sarcasmo para com outros países vizinhos, como a Dinamarca e a Alemanha, que sendo campeões ideológicos da "verdura" têm, no entanto, a maioria da sua energia eléctrica com origem na queima de combustíveis fósseis (mesmo a Dinamarca, que a par do vento tem uma importantíssima componente de cogeração, que não deita menos fumo que as centrais a fuel, e carvão).
Outra das razões do sarcamos francês para com os seus vizinhos eólicistas é que estes dependem do nuclear francês para a estabilidade das respectivas redes, como tem sido demonstrado de cada vez que há um apagão regional.
Mas porque saiu agora a França do seu low-profile ecológico, propondo a tal "taxa de carbono"? Porque, como ela própria justifica, esses países fazem uma "concorrência desleal".
Ora a ideia de que os países asiáticos e em geral os estrangeiros não-europeus fazem à França uma concorrência económica desleal, é velha. O grupo PSA (Peugeot-Citroen), por exemplo, passava a vida a reclamar o boicote aos automóveis japoneses, e é francês aquele agricultor (altamente subsidiado pela UE, aliás), que se tornou famoso por atacar McDonalds americanos!
Por mais antipática que possa ser, este chauvinismo tradicional da França mostra que a velha política de cada um defender os seus interesses nacionais, continua actual.
Posto isto, porque recusa a Alemanha esta "taxa sobre o carbono" dos produtos importados dos países não-aderentes às propostas ecológicas europeias?
Pela mesma razão, claro, porque a Alemanha se opõe sempre a qualquer medida europeia proteccionista: a de que ela é (ainda) o maior exportador mundial de produtos industriais, e sabe que esse proteccionsimo europeu implicaria retaliações dos mercados para onde exporta!
Mais uma vez, é preciso dizer aos jornalistas a velha frase da campanha eleitoral de Clinton conta Bush pai: é a economia, estúpido!


 

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