quinta-feira, julho 02, 2009

Porque têm a Rússia e os EUA tantas armas atómicas?

A estratégia militar da guerra nuclear baseia-se na teoria dos jogos, como o filme “War Games” romanceou. E, nessa estratégia, o problema tecnológico da precisão de tiro dos mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) sempre foi decisivo.
A questão inicial que se coloca é a seguinte: se eu lançar um primeiro ataque com os meus ICBM, que alvos escolherei? Obviamente, sobretudo os ICBM adversários ainda no solo, de modo a neutralizar a sua capacidade de retaliação.
Pensando da mesma forma, o adversário antecipa tal ataque enterrando os seus ICBM em silos subterrâneos “à prova de bomba”. À prova de bomba mas não à prova de uma bomba nuclear com impacto directo na boca do silo!
Porém, os antigos ICBM não tinham precisão de tiro para garantir que acertariam na boca do silo dos ICBM adversários. Este problema, porém, pode resolver-se probabilisticamente se, em vez de lançar um único ICBM contra cada silo dos ICBM adversários, lançar uma barragem deles, um número que se pode calcular – por exemplo, 5. Algum há-de acertar. Mas, para isso, tenho que ter 5 ICBM por cada um dos que o adversário tem.
Naturalmente, o adversário faz as mesmas contas e pensa que se tiver 2 ICBM em vez de um só, eu com os meus 5 talvez não consiga destruir mais que um. Mas, à cautela e porque isto da precisão de tiro é probabilístico, em vez de 2 é melhor ter 6, não vá acontecer que todos os 5 ICBM do meu primeiro ataque acertem no alvo. E, como o meu adversário está a intalar 6 ICBM para garantir a sobrevivência de pelo menos um, eu terei que ter 6x5=30 para garantir que lhe destruo os 6 que ele vai construir ou que suponho que vai. E assim sucessivamente…
Estes números podem ser exponenciados se o adversário dificultar mais ainda a destruição dos seus ICBM instalando mísseis anti-mísseis em torno dos silos dos seus ICBM. Esses anti-mísseis terão de destruir os meus ICBM em voo, antes da reentada destes na atmosfera a caminho dos silos adversários. Mas os anti-mísseis também não tinham grande precisão de tiro, e se os meus ICBM não garantem que acertam no silo, os mísseis anti-mísseis do adversário ainda menos garantem que acertam nos meus ICBM. A menos que transportem, eles próprios… uma ogiva nuclear! Assim, não precisam de acertar directamente no meu ICBM; basta que expludam a menos de alguns quilómetros de distância, ao cruzarem-se, sendo a falta de pontaria compensada com a força da explosão nuclear. Bem, estão a ver a “corrida aos mísseis” que isto provoca…
Dada a imprevisibilidade desta estratégia e a ruína ecomómica mútua que induziria, os EUA e a URSS fizeram o seu primeiro acordo, o SALT I, em 1972, estabelecendo que cada parte só protegeria com mísseis anti-mísseis uma base de ICBM e a capital de cada um dos países. Depois disso, a corrida continuou mas mais na busca de meios para contornar esta lógica quantitativa infernal, ou MAD (“louco”), a lógica do Mutually Assured Destruction.

Hoje em dia a precisão de tiro dos mísseis melhorou enormemente, e é essa a razão principal porque se pode reduzir o seu número sem que isso constitua uma redução da capacidade militar de cada lado, mas apenas a redução do risco de alguma ogiva acabar em "mãos erradas". Como na história do Dr. Estranho Amor, o filme de Stanley Kubrick.

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