quarta-feira, julho 08, 2009

O carvão não se deixou de usar com o fim das locomotivas a vapor!...

Toda a gente sabe que os carros e muitas fábricas emitem CO2, o principal gás que contribui para o efeito de estufa e as alterações climáticas decorrentes. O que já pouca gente sabe é a que ponto contribuiem para a emissão de CO2 as relativamente poucas centrais a carvão que produzem grande parte da energia eléctrica que o mundo consome!...

Uma publicação recente detalha o que já era conhecido: as centrais a carvão emitem 1/4 de todo o CO2 gerado no mundo. Mas a maior parte do CO2 não vem da indústria nem dos transportes (vd. figura).

Na "liderança" desta produção de CO2 pelo carvão estão os EUA, cuja electricidade deriva em 50% desse tipo de centrais, e no conjunto do planeta o carvão é a fonte de 40% da energia eléctrica. Na Polónia, 92% da electricidade é gerada a partir do carvão, na República Checa e na Grécia cerca de 60%, na Alemanha 50%.

Em Portugal, só as duas centrais de Sines e de Abrantes geram 30% da nossa electricidade, cada uma delas mais que todas as turbinas eólicas existentes juntas!

quem pense em petróleo quando se fala em "energia", mas da energia eléctrica muito pouca é feita com petróleo, e a que o é na maioria é em produções dispersas por fábricas a que se chama, muitas vezes impropriamente, "cogeração", aliás generosamente subsidiada pelo défice do sistema eléctrico ao abrigo da legislação existente desde o Governo de Guterres.

O carvão é abundante e não está no sub-solo de países inconvenientes. O nosso vem na sua maioria da Austrália que, sendo rica em carvão, o usa à discrição e é, por isso, dos maiores produtores de CO2 per capita a partir dessa matéria-prima. Outro país muito rico em carvão é a China que, por isso, quase equipara os EUA na emissão de CO2 por essa via. Os EUA e o Canadá (outro grande poluidor) reservam 30% do carvão mundial no seu sub-solo (sim, God blessed America), e sob a Sibéria e a Europa do norte estão mais 1/3 das reservas mundiais. E são reservas grandes: ao actual ritmo de consumo, se o petróleo dá para mais 40 anos e o gás natural para 65, o carvão ainda durará 150 - tempo suficiente, decerto, para se conseguir o controlo da fusão nuclear, o Santo Graal da energia limpa e infinita.

O carvão e a sua queima são baratos: o custo do kWh gerado a partir dele é da ordem de 30 € /MWh, menos de metade do que custa a mesma energia extraída do vento, e desse preço só metade é do carvão em si, sendo o resto do custo da central; na Europa, porém, desde há 10 anos que o protocolo de Kioto multa o carvão pela sua emissão de CO2, o que aumenta o seu custo dos 30 para 50 €. Nos EUA o custo do MWh produzido a carvão é ainda menor, 25 €/MWh, e os EUA não subscreveram Kioto...

Por tudo isto, coloca-se a questão: mas é mesmo necessário desistir do carvão e mandar as centrais eléctricas que o produzem para o caixote do lixo da História onde jazem as velhas locomotivas a vapor? Não haverá soluções engenhosas que permitam "limpar" o carvão e manter o seu uso, não haverá reformas tecnológicas que evitem a revolução energética?
Não as há em uso corrente, mas há-as em fase experimental: consistem em "capturar" e depois "sequestrar" o carbono da queima do carvão, e num próximo post falarei das perspectivas dessas tecnologias.

2 comentários:

Anónimo disse...

Essa de o CO2 ser determinante nas alterações climáticas ainda está para provar! e o vapor de água? ninguém fala dele? e os "traques" do gado vacum?
A negociata que hoje é dominante em torno das emissões de gases não permite clarividência e racionalidade na análise científica do problema...

Pinto de Sá disse...

Embora haja ainda incertezas quanto aos modelos, elas tendem a vir a estreitar-se. Convém ter algum respeito pela Ciência e pelos cientistas e não "mandar bocas" sobre aquilo de que não se sabe.
O vapor de água, como é evidente, volta sempre à terra na forma de chuva.
Quanto ao gado, sem dúvida que o metano tem influência no efeito de estuda. Mas não há mais metano agora do que antigamente, e antigamente não havia gado mas havia muito mais fauna selvagem.