quinta-feira, julho 02, 2009

Cálculo do risco de morte com a nova gripe

Remando contra a inumeracia nacional, eis umas contas:
Número de casos detectados até dia 6: 94500; número de mortes: 429; taxa de mortalidade da doença: 0,4%. Dados da OMS disponíveis aqui.
• Mortalidade anual, no mundo, da gripe vulgar: de ¼ a ½ milhão. Sim, a gripe vulgar mata! Aqui. Afecta 10 a 20% da população, todos os anos.
• Taxa de mortalidade da gripe vulgar todos os anos, em média: 0,1%.
• Taxa de mortalidade da gripe de 1918: de 2,5 a 10%. Aqui. Em Portugal terão morrido então mais de 60 mil pessoas, na altura. Afectou 50% da população mundial de 1600 milhões e matou de 20 a 40 milhões, mais que a Grande Guerra, que estava a acabar na altura. Estatísticas recentes avaliam mesmo em de 50 a 100 milhões o número de mortes, equiparáveis aos da peste negra medieval, e que em certas regiões a mortalidade terá atingido os 20%.

Portanto, a gripe A é mais parecida com uma gripe vulgar (quiçá 4 vezes mais mortal) do que com a gripe de 1918, que foi 25 a 100 vezes mais letal (e muito mais contagiosa).
Na verdade, parece similar em letalidade à gripe asiática de 1957, também altamente contagiosa, e que terá matado 1 milhão de pessoas em todo o Mundo.
Será uma gripe "forte", comparando-a com as usuais, mas ainda não é "A grande gripe" por que se espera há anos e se sabe ser inevitável. Esta é só um ensaio, um teste à capacidade de resposta da globalização instantânea da informação.
Uma incompreensão frequente é que a gripe raramente mata por si mesma, o que pode levar a euforias pouco sensatas. A gripe mata sobretudo pelas consequências que provoca o seu enfraquecimento geral da resposta imunitária, e mata as mais das vezes com as pneumonias subsequentes.
Entretanto, é interessante que exista por cá uma memória popular das gripes asiática de 1957 e da de Hong-Kong de 1969. A mãe de uma amiga minha, que vivia numa aldeia perto de Coimbra, lembra-se de haver "casas inteiras com a gente acamada", em 1957...

4 comentários:

Lowlander disse...

A cerca do acompanhamento da Gripe aconselho o bloge effect measure alojado na plataforma scienceblogs.
Quanto as gripes e preciso notar que e uma doenca que, de forma frustrante, continua a colocar fortes desafios para os especialistas na area. So a titulo de exemplo, ainda nao se compreende porque e que a gripe e sazonal.
Dai que os gestores deste blogue que citei digam que: quem observou uma pandemia de gripe, observou simplesmente UMA pandemia de gripe. O virus e tao mutagenico e versatil na sua relacao com os diferentes hospedeiros que nao e possivel tracar previsoes fiaveis do que se passara no futuro simplesmente baseado naquilo que se observou das pandemias passadas.

Pinto de Sá disse...

Note-se que eu não comparei a actual gripe A com a de 1957 baseado em raciocínios à priori, mas sim APÓS o cálculo da sua mortalidade a partir de dados existentes já com significado estatístico.
Quanto à mutabilidade do vírus da gripe, tal mutabilidade é característica de TODOS OS VÍRUS, e não só do da gripe. Tal resulta precisamente da sua simplicidade genética.
Há muito que reflicto que o romance e o cinema geralmente mostram grandes monstros quando querem causar medo mas que os mais perigosos são, de facto, os seres vivos mais pequenos: os vírus.

Lowlander disse...

"Quanto à mutabilidade do vírus da gripe, tal mutabilidade é característica de TODOS OS VÍRUS, e não só do da gripe."

Nao, nao e. A maioria das familias de virus sao muito estaveis geneticamente, as vacinas dependem desta estabilidade. O Influenza nao sendo o mais plastico de todos os virus nao e de todo um virus tipico, de tal forma que num determinado ponto no tempo o que esta na realidade em circulacao nao e uma estirpe do Influenza e sim um cluster de estirpes sendo que uma delas e a mais representativa da populacao. Isto nao se passa com a generalidade dos virus. Nao e o pior em termos de mutabilidade (o HIV por exemplo e bem pior, de tal forma que nao ha vacinas e em ultima analise o sistema imunitario e incapaz de o eliminar, ao contrario de um Influenza, porque o alvo HIV muda ainda mais rapidamente, para alem de usar outros truques) mas e sem duvida um um organismo atipico.

Quanto as comparacoes com outras pandemias e seus aspectos paralelos, como disse, sao arriscadas. Ha tracos em paralelo com a de 57 no aspecto que menciona aspecto mas por exemplo a taxa de mortalidade em sido jovens adultos saudaveis e superior com este virus de forma estatisticamente significativa, o que e um paralelo com a pandemia de 18.
Por outro lado e uma pandemia que se esta de momento a propagar de forma mais intensa no Hemisferio Sul como seria esperado de um Influenza, e Inverno la, epoca normal da Gripe. Ja nao tao esperado de forma alguma e a forma como esta a conseguir persistir no Hemisferio Norte, fora do seu habitual pico sazonal, prolongando a epidemia Invernil do ano transacto, o que, tanto quanto sei, e atipico de qualquer das pandemias ate agora recordadas.

E nao esquecer que, no meio desta imagem ja de si confusa do que se esta a passar, o virus, a medida que se propaga esta em mutacao. O que e que se vai passar no proximo Inverno aqui? O virus pode vir a ganhar mais patogenicidade, pode ser que simplesmente perca infectibilidade, pode permanecer na mesma, ou encontrar forma de saltar outra vez de especie de hospedeiro e desaparecer do mapa.

Dai que, la volto ao meu ponto inicial: quem viu uma pandemia, viu uma pandemia e nada mais. E frustante mas a ciencia actual nao esta ainda equipada para explicar adequadamente a dinamica epidemiologica destes virus. A producao da vacina tem de ser acelerada, mesmo que se verifique este Inverno que o este virus simplesmente desapareca do mapa.

Anónimo disse...

Será que podemos comparar números de anos tão distintos e tirar conclusões sobre a mortalidade causada por estes vírus? Os meios médicos, de higiene e informação são necessariamente diferentes. Seria interessante ter as taxas de mortalidade da gripe sazonal em 1918 e 1957 e comparar os valores.