quinta-feira, julho 09, 2009

Alterações climáticas e o G8: porque vão os ricos dar 20 milhões aos pobres

O conhecimento existente sobre a natureza, causas e efeitos das alterações climáticas é vasto e ao mesmo tempo com muitas incertezas, mas o que me traz aqui não é pôr em causa nada, mas apenas expôr alguns factos desse conhecimento científico que em regra são escamoteados por inconvenientes.
Antes de prosseguir, quero esclarecer que considero existir indubitavelmente um aquecimento global, acelerado sobretudo desde há um século. As provas são irrefutáveis: o mar já subiu um palmo (15 cm) nos últimos 150 anos (vd. figura) e os grandes degelos em curso são inegáveis.
Quais exactamente as suas causas e sobretudo a sua quantificação exacta, é muito mais incerto. Mas a ideia geral de que a combustão causa efeito de estufa é consensual, e ocorreu muito antes até de se ter dados para crer que isso realmente acontecia, no sec. XIX, ao químico Arrhenius. Vou, por isso, dar como bons os resultados científicos estabelecidos pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (PIAC) e pela NASA. Não os porei em causa. O que considero digno de menção são factos constantes desse conhecimento pouco divulgados, talvez por os nossos opinion-makers raramente lerem os documentos produzidos pelos Organismos internacionais especializados que gostam de invocar para agitar bandeiras e emoções.

O primeiro facto é relativo às causas humanas da emissão de gases causadores do efeito de estufa: o gráfico que postei aqui mostra a contribuição relativa dessas causas. De acordo com esse gráfico, a produção de energia eléctrica e para aquecimento mais os transportes produz, no total... 1/4, apenas, desses gases! No entanto, o próprio PIAC reconhece que a incerteza nos modelos climáticos existentes é ainda grande e que a margem de erro na quantificação da contribuição dos gases emitidos pelo uso de terras e pela desflorestação é de 30 a 50%.
De acordo com o gráfico que referi atrás, a maior contribuição humana para o aquecimento global vem do CO2 da desflorestação, das queimadas das savanas, dos fogos florestais e dos métodos agrícolas que "secam" os solos de carbono, bem como do metano gerado na agricultura do arroz. Juntos, estes eventos causarão metade das emissões humanas de CO2, mais de duas vezes as causadas pelos nossos "vícios consumistas" na sociedade industrial!
No entanto, dentro da "margem de erro" referida também se pode chegar a conclusões mais culposas para o nosso "consumismo", como as representadas no gráfico ao lado. Neste quadro, a produção de energia e os transportes já serão responsáveis por cerca de metade dos gases emitidos, mas ainda assim o mau uso da terra produzirá 1/3 desses gases!

Como é evidente, a existência destas incertezas acarreta um enorme potencial de desentendimento político mundial, porque conforme os extremos dos intervalos de incerteza adoptados assim se poderá culpar sobretudo os países "consumistas" industrializados, ou pelo contrário advogar que não são menos culpados os países do 3º Mundo que desflorestam para construir e cultivar, deixam queimar as savanas ou têm agriculturas desertificantes!
Na verdade, a primeira grande causa da emissão de gases causadores de alterações climáticas é, simplesmente... a explosão demográfica da Humanidade! Praticamente qualquer actividade humana causa alterações à Natureza que modificam o clima! Ora desde que a primitiva comunidade de uma centena de Homo Sapiens saiu do corno de África há uns cem mil anos, até aos 6770 milhões actuais, a Humanidade ocupou a maioria da superficie do planeta, e com essa ocupação veio a sua modificação. Quanto a esta causa determinante, a principal esperança de redução das causas do aquecimento central é a previsão da redução da população, após o máximo de 10000 milhões previstos para 2050... ou a partida para a colonização de outros planetas :-) .
A segunda grande causa da emissão de gases é o elevado consumo propiciado pela evolução tecnológica, sobretudo da sociedade industrial, a que toda a Humanidade quer ascender. O planeta tornou-se demasiado pequeno para esta espécie que nós constituímos, e basicamente o que temos é de aprender a viver num espaço limitado. E com recursos naturais limitados.
Como sempre, naturalmente, todos querem um bocadinho maior desses recursos, e com isso vêm os conflitos. Contra os quais a única resposta boa é a negociação e a cedência, mas de parte a parte.
Para já, o 1º Mundo a que pertencemos oferece-se para ajudar o outro e, como gesto de boa vontade, avança com 20 milhões para ajudar a evitar, que mais não seja, o lixo a céu aberto...

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